Já Passou...
A vida passa sem nos darmos conta. Passa rasgada, batida, como o ventinho frio da alvorada arrastando os copos de plástico amassados; as cinzas chorosas de mais um carnaval que findou. A vida passa, pois sempre tentamos agarrá-la, como uma cobra molhada que escapa das nossas mãos.
A vida passa... passa pelos comerciais que vendem alegria enlatada, a felicidade renunciada; passa pelos outdoors que colorem de mais concreto a cidade asfaltada, corações petrificados; passa pelos seriados de TV, pelas mãos do sujeito que ganha sem suar e recebe aplausos sem querer. Passa de sopetão, no clicar de um botão, que anestesia a família cansada do dia-a-dia confuso frente ao televisor, que consola... consola.
Pois quero eu então ser proibido de morrer. Quero antes entender o viver. Que todos os cemitérios do mundo fechem os portões para novos inquilinos moribundos. Que todos os cemitérios do mundo sejam desocupados, e, em seu lugar, que carvalhos sejam plantados. E do alto da mais frondosa árvore, degustaremos o pôr-do-sol, e no descampado orvalhado, caminharemos ao relento enchendo os pulmões de despreocupação.
Às favas com jazigos, mausoléus e anjinhos de mármore desgastados, gatos pretos e neblinas soturnas, noturnas. Tabeliões rancorosos, pigarrentos burocratas de plantão: carimba em pranto o peito; mais um atestado de óbito. Serão todos recolhidos na gaveta do esquecimento ao lado da lápide fria que anuncia: aqui jaz uma vida que passou...
A vida passa... passa pelos comerciais que vendem alegria enlatada, a felicidade renunciada; passa pelos outdoors que colorem de mais concreto a cidade asfaltada, corações petrificados; passa pelos seriados de TV, pelas mãos do sujeito que ganha sem suar e recebe aplausos sem querer. Passa de sopetão, no clicar de um botão, que anestesia a família cansada do dia-a-dia confuso frente ao televisor, que consola... consola.
Pois quero eu então ser proibido de morrer. Quero antes entender o viver. Que todos os cemitérios do mundo fechem os portões para novos inquilinos moribundos. Que todos os cemitérios do mundo sejam desocupados, e, em seu lugar, que carvalhos sejam plantados. E do alto da mais frondosa árvore, degustaremos o pôr-do-sol, e no descampado orvalhado, caminharemos ao relento enchendo os pulmões de despreocupação.
Às favas com jazigos, mausoléus e anjinhos de mármore desgastados, gatos pretos e neblinas soturnas, noturnas. Tabeliões rancorosos, pigarrentos burocratas de plantão: carimba em pranto o peito; mais um atestado de óbito. Serão todos recolhidos na gaveta do esquecimento ao lado da lápide fria que anuncia: aqui jaz uma vida que passou...