Rory Gallagher
Um dos guitarristas mais brilhantes do século XX, o irlandês que construiu seu próprio império sonoro com uma só guitarra.
Diferente de qualquer história romântica sobre grandes guitarristas, pode-se dizer que o que aproximou o pequeno Rory da música foi, provavelmente, o tédio ou a possibilidade de entediar-se. Qual seria a diversão de um garoto com um pouco mais de dez anos de idade em um condado nos cafundós da Irlanda chamado Cork? Para a maioria da molecada seria jogar bola, subir em árvores, coisas assim, mas não para o pequeno Rory. O que ele achava divertido era imitar para os amigos artistas como Roy Rogers, Gene Autry e Elvis Presley, munido apenas de um ukulele - tradicional instrumento havaiano – de plástico que Rory ganhara dos pais. Essa brincadeira fez com que, aos nove anos de idade, decidisse comprar seu primeiro violão, concebendo, sem saber, o que seria o rumo de toda sua vida. Mais tarde, tudo ficaria claro quando de sua vitória em um concurso de talentos aos 12 anos de idade, conquistando um prêmio em dinheiro que logo se converteria em sua primeira guitarra.
Aos 15 anos, Gallagher visitou Crowley`s Music Center de sua cidade e legitimou o que já se mostrava óbvio. Desembolsando 100 libras adquiriu a guitarra que o acompanharia por toda sua carreira: uma legítima Fender Stratocaster1961 de segunda mão. Quando perguntado do porquê haver mantido sua Fender, Gallagher dizia que não sentia vontade de trocá-la, alegava que era sua companheira e tinha grande apreço por isso. Não foram poucas as vezes em que demonstrou verdadeira afetividade pelo instrumento e pelo ato de tocar. Dizia que sua guitarra fazia parte daquilo que chamava de sua “maquiagem-psíquica”, tocava sempre que se percebia emotivo. Não é difícil sentir essa devoção quando se escuta músicas como "A Million Miles Away" (do disco Tattoo), em que fica explícito que o guitarrista vivia aquilo de maneira intensa, e que a guitarra parecia gostar de ser tocada por suas mãos. Mesmo que sua relação com a Fender parecesse por vezes piegas, ele mesmo dizia que não se importava.
Com um carisma voltado para a simplicidade, Gallagher era dono de um som aterrador, tendo por influência figuras como Lonnie Donegan, Woody Guthrie, Leadbelly, Chuck Berry, Muddy Waters e Jerry Lee Lewis. Foi com estes ídolos que desenvolveu uma linguagem própria capaz de discorrer com segurança entre o rock efusivo e brilhante e a destreza valiosa na hora de improvisar, virtude esta que remetia à sua devoção pelo blues. "Mesmo que você não goste do gênero, é preciso ouvir muito blues para se ter consciência de quanto tempo é necessário até se chegar a ser um grande guitarrista. Eles é que entendem do riscado", disse certa vez em uma curta entrevista. A relação profunda que mantinha entre a dedicação ao instrumento e ao som característico de sua Fender era um dos fatores que norteavam sua simplicidade na hora de escolher equipamentos. Escolhia de fato? Rory se contentava em usar o ganho do amplificador que estivesse disponível. Empunhava sua Fender, ligava-a ao equipamento, entravam ele e a guitarra em simbiose total, e não se sabia quem comandava quem.
Em 1963 foi convidado a tocar na Fontana Show Band, sexteto com o qual excursionou pela Grã-
Bretanha durante todo o ano seguinte. Foi durante essa turnê que teve a oportunidade de assistir aos Rolling Stones em Londres, fato que contribuiu para que a insatisfação com o som que fazia na Fontana passasse a aumentar. A banda se afastava do ideal de Gallagher em compor um som que se fundasse no binômio blues/rock pelo qual era completamente aficionado. Dois anos depois, a banda é renomeada para The Impact, Gallagher passou o ano realizando o que seriam suas últimas performances com os caras . Após se apresentar em uma base militar americana em Madri, o The Impact voltou pra Londres, cidade onde se separariam definitivamente.
Gallagher não poderia ainda perceber que o finado sexteto representava, de fato, o início de sua consagração. Foi no ano seguinte, de volta a Cork, que decidiu formar, finalmente, seu primeiro power trio, nomeando Eric Kitteringham para o baixo e Norman Damery para bateria. Inicialmente chamado de The Taste e, logo depois, apenas Taste, estava formado o trio que no final da década de 60 tentou assumir um posto ao lado do Cream e do Jimi Hendrix Experience como a santa trindade dos power trios britânicos e sem nada a perder para os demais.
O Taste conquistou fãs pela Grã-Bretanha logo na primeira viagem a Londres. O trio adquiriu um reconhecimento que nem eles próprios esperavam receber tão cedo. Na apresentação que fizeram no famoso Marquee Club, o público tremeu diante do mesmo homem de anos atrás, que se vestia como qualquer trabalhador irlandês, trazia a mesma Fender de sempre, mas tocava cada vez melhor. Foi nessa apresentação que atraiu a atenção e conquistou o respeito de John Lennon que imediatamente demonstrou admiração pelo som de Gallagher. Além do mais, para o beatle que se aproximava cada vez mais de sua postura iconoclasta, um homem de caráter afável como Gallagher, que não pretendia mostrar-se melhor que ninguém, era um prato cheio para um músico que pensava o artista como um representante de todos os homens.
O trio obteve ainda nova formação em 1968 - com Richard McCraken no baixo e John Wilson na bateria -, que durou até o fim do ano seguinte, dispersando-se logo depois do Festival da Ilha de Wight. O irlandês queria se engajar em uma sonoridade mais voltada para o folk e o blues, algo que sentia estar perdendo progressivamente com suas formações mais voltadas para o rock. Com isso decidiu convidar Gerry McAvoy - baixista que conhecera em 1968 em Belfast, durante um show do Taste -, para seu projeto solo. Naquela época Gerry era baixista do Deep Joy, banda que já havia cruzado palco com Taste diversas vezes. Tanto o Taste, quanto o Deep Joy viviam a liberdade dos anos 60 e criavam uma espécie de som híbrido (rock, folk, blues, jazz...), misturando tudo o que havia influenciado suas linguagens. Por coincidência, as duas bandas acabaram quase ao mesmo tempo, bastou Gallagher fazer um telefone que Gerry já aceitava o convite. Ironicamente, essa nova formação nascida de maneira tão simples e espontânea, seria a mais duradoura na carreira de Gallagher. Ele e McAvoy tocaram juntos de 1970 a 1991, uma convivência musical tranqüila e frutífera segundo o próprio baixista. Não foi à toa que Rory conquistou um disco de platina pelo álbum Live in Europe em 1972 e o prêmio de músico do ano pela revista Melody Maker.
O guitarrista irlandês, quase sempre vestido com suas camisas de lenhador, havia construído uma imagem bastante carismática entre os músicos, a ponto de, em 1973, quando da saída do guitarrista Mick Taylor, ter sido convidado a integrar os Rolling Stones. De fato, chegou a gravar com eles por algumas noites em Rotterdam (Holanda), mas pouco depois acabou rejeitando o convite. Na época, a banda estava fazendo testes com vários guitarristas e, aparentemente, Mick Jagger queria que Gallagher entrasse, mas o irlandês percebeu que os demais estavam muito indecisos quanto à escolha. Como já havia shows marcados no Japão, e não estava se sentindo confortável com a indecisão da banda, resolveu partir e dar continuidade a sua carreira-solo.
Durante os anos 70 o guitarrista intensificou sua rotina de trabalho a níveis insalubres. Seu parceiro McAvoy lembrou, em entrevista informal concedida em 1997, que a banda chegava a fazer mais de 200 shows anuais. Este processo levou-os a um conhecimento mútuo absurdo, o que ampliava a possibilidade de experimentar improvisos ao vivo, embora ao mesmo tempo desgastasse e automatizasse suas atuações. Gallagher sentia dificuldade em se adaptar plenamente às tendências de mercado e a conseqüente rotina. McAvoy sempre citou com certa insatisfação a turnê realizada com Rush naquele período já que, a banda do guitarrista Alex Lifeson estava nos moldes do grande mercado de rock e tinha estrutura para agüentar shows em grandes arenas. Gallagher preferia shows menores e turnês mais curtas.
Logo após o lançamento do disco Calling Card - de 1976-, o guitarrista dispensou o tecladista Lou Martin, retomando a forma de trio de que sentia falta. Na verdade havia começado a perceber que sua carreira poderia entrar em letargia se não houvesse um redirecionamento e, a partir disso, adicionou uma boa dose de peso ao disco Photo Finish de 78, repetindo a bem sucedida receita com Top Priority de 79. Ao permitir que o rock preponderasse em suas composições, conseguiu conquistar um público que nunca antes havia ouvido seu nome e seu som, o que certamente lhe propiciou uma maior vendagem. Os dois discos renderam ótimas críticas e uma rica turnê, resultando ainda em um terceiro disco, agora ao vivo. Stagestruck - de 1980- talvez a turnê mais bem-sucedida de sua carreira, resume todo o seu trabalho realizado nos anos oitenta.
De 81 a 91 o trio se manteve com o fiel McAvoy integrando agora Brendan O´Neill na bateria, mas a necessidade de secundarizar o blues para ganhar público ainda desagradava o espírito de Gallagher.
A voracidade das gravadoras e a conseqüente transformação de seu som começaram a deprimi-lo, fazendo com que sua saúde, tanto física quanto psíquica, começasse a se abalar. Gallagher não conseguia controlar a bebida, fato que costumava ligar ao seu amor pelo blues. Sempre brincando, dizia que a sonoridade melancólica do gênero fazia mal à saúde de qualquer pessoa. Na verdade, sua carreira àquele ponto estava começando a mexer com sua cabeça. Ao mesmo tempo em que mostrava serenidade e segurança quanto ao próprio som, ele não agüentava críticas diretas reagindo de maneira implosiva. Um de seus empresários tratou-o muito mal em uma turnê pela Holanda em 84, e voltando pra casa no natal deprimiu-se muito. Desgastado e descrente, cancelou todos os shows marcados para os meses seguintes, ficando trancado dentro de casa até abril do ano seguinte.
Gallagher só piorava. Quando dava as caras, estava sempre de óculos escuros porque já havia se tornado fotofóbico. Comentava que qualquer feixe de luz que recebia diretamente doía-lhe muito os olhos. Pouco a pouco, tornou-se obsessivo fazendo com que fatores de desordem específicos maltratassem terrivelmente seu humor. Chegou a não mais conseguir ficar em um quarto onde se dispusessem quadros pela parede, porque se sentia compelido a alinhá-los. Estava doente com o fígado debilitado pelo excesso de bebida. Em um tributo a ele - publicado na Hot Press em julho de 1995 – Gary Moore define o guitarrista como um homem atencioso. Alguém que se complicava com mulheres, com a lei e com a bebida, mas se importava mais com os colegas do que consigo. Não tinha o costume de falar sobre os próprios problemas, bastava que lhe dessem um pouco de atenção e ele mesmo queria escutar os problemas dos outros. Sofria de uma carência intrínseca que se agravou com sua debilidade.
Em 1994 sua saúde chegou a um estado crítico, e no ano seguinte já se tornava irreversível. Mais de 2/3 do fígado de Gallagher já se mostravam comprometidos pelo uísque diário do qual ele não abria mão. A última imagem que os fãs puderam acompanhar foi em seu derradeiro show de fevereiro de 1995 na Holanda, onde se via um homem já cansado, magro, muito pálido e muito menos vibrante. Era um homem claramente vencido, embora insistente. Cinco meses depois, submeteu-se a um transplante de fígado no King´s College Hospital de Londres do qual não se recuperaria. A baixa resistência levou-o a desenvolver uma pneumonia pós-operatória. Quando hoje se escuta “Too much alcohol”, composta por ele tantos anos antes, parece que ele já havia sonhado o próprio fim. Morreu no hospital na noite do dia 14 de julho de 1995.
Diferente de qualquer história romântica sobre grandes guitarristas, pode-se dizer que o que aproximou o pequeno Rory da música foi, provavelmente, o tédio ou a possibilidade de entediar-se. Qual seria a diversão de um garoto com um pouco mais de dez anos de idade em um condado nos cafundós da Irlanda chamado Cork? Para a maioria da molecada seria jogar bola, subir em árvores, coisas assim, mas não para o pequeno Rory. O que ele achava divertido era imitar para os amigos artistas como Roy Rogers, Gene Autry e Elvis Presley, munido apenas de um ukulele - tradicional instrumento havaiano – de plástico que Rory ganhara dos pais. Essa brincadeira fez com que, aos nove anos de idade, decidisse comprar seu primeiro violão, concebendo, sem saber, o que seria o rumo de toda sua vida. Mais tarde, tudo ficaria claro quando de sua vitória em um concurso de talentos aos 12 anos de idade, conquistando um prêmio em dinheiro que logo se converteria em sua primeira guitarra.
Aos 15 anos, Gallagher visitou Crowley`s Music Center de sua cidade e legitimou o que já se mostrava óbvio. Desembolsando 100 libras adquiriu a guitarra que o acompanharia por toda sua carreira: uma legítima Fender Stratocaster1961 de segunda mão. Quando perguntado do porquê haver mantido sua Fender, Gallagher dizia que não sentia vontade de trocá-la, alegava que era sua companheira e tinha grande apreço por isso. Não foram poucas as vezes em que demonstrou verdadeira afetividade pelo instrumento e pelo ato de tocar. Dizia que sua guitarra fazia parte daquilo que chamava de sua “maquiagem-psíquica”, tocava sempre que se percebia emotivo. Não é difícil sentir essa devoção quando se escuta músicas como "A Million Miles Away" (do disco Tattoo), em que fica explícito que o guitarrista vivia aquilo de maneira intensa, e que a guitarra parecia gostar de ser tocada por suas mãos. Mesmo que sua relação com a Fender parecesse por vezes piegas, ele mesmo dizia que não se importava.
Com um carisma voltado para a simplicidade, Gallagher era dono de um som aterrador, tendo por influência figuras como Lonnie Donegan, Woody Guthrie, Leadbelly, Chuck Berry, Muddy Waters e Jerry Lee Lewis. Foi com estes ídolos que desenvolveu uma linguagem própria capaz de discorrer com segurança entre o rock efusivo e brilhante e a destreza valiosa na hora de improvisar, virtude esta que remetia à sua devoção pelo blues. "Mesmo que você não goste do gênero, é preciso ouvir muito blues para se ter consciência de quanto tempo é necessário até se chegar a ser um grande guitarrista. Eles é que entendem do riscado", disse certa vez em uma curta entrevista. A relação profunda que mantinha entre a dedicação ao instrumento e ao som característico de sua Fender era um dos fatores que norteavam sua simplicidade na hora de escolher equipamentos. Escolhia de fato? Rory se contentava em usar o ganho do amplificador que estivesse disponível. Empunhava sua Fender, ligava-a ao equipamento, entravam ele e a guitarra em simbiose total, e não se sabia quem comandava quem.
Em 1963 foi convidado a tocar na Fontana Show Band, sexteto com o qual excursionou pela Grã-
Bretanha durante todo o ano seguinte. Foi durante essa turnê que teve a oportunidade de assistir aos Rolling Stones em Londres, fato que contribuiu para que a insatisfação com o som que fazia na Fontana passasse a aumentar. A banda se afastava do ideal de Gallagher em compor um som que se fundasse no binômio blues/rock pelo qual era completamente aficionado. Dois anos depois, a banda é renomeada para The Impact, Gallagher passou o ano realizando o que seriam suas últimas performances com os caras . Após se apresentar em uma base militar americana em Madri, o The Impact voltou pra Londres, cidade onde se separariam definitivamente.
Gallagher não poderia ainda perceber que o finado sexteto representava, de fato, o início de sua consagração. Foi no ano seguinte, de volta a Cork, que decidiu formar, finalmente, seu primeiro power trio, nomeando Eric Kitteringham para o baixo e Norman Damery para bateria. Inicialmente chamado de The Taste e, logo depois, apenas Taste, estava formado o trio que no final da década de 60 tentou assumir um posto ao lado do Cream e do Jimi Hendrix Experience como a santa trindade dos power trios britânicos e sem nada a perder para os demais.
O Taste conquistou fãs pela Grã-Bretanha logo na primeira viagem a Londres. O trio adquiriu um reconhecimento que nem eles próprios esperavam receber tão cedo. Na apresentação que fizeram no famoso Marquee Club, o público tremeu diante do mesmo homem de anos atrás, que se vestia como qualquer trabalhador irlandês, trazia a mesma Fender de sempre, mas tocava cada vez melhor. Foi nessa apresentação que atraiu a atenção e conquistou o respeito de John Lennon que imediatamente demonstrou admiração pelo som de Gallagher. Além do mais, para o beatle que se aproximava cada vez mais de sua postura iconoclasta, um homem de caráter afável como Gallagher, que não pretendia mostrar-se melhor que ninguém, era um prato cheio para um músico que pensava o artista como um representante de todos os homens.
O trio obteve ainda nova formação em 1968 - com Richard McCraken no baixo e John Wilson na bateria -, que durou até o fim do ano seguinte, dispersando-se logo depois do Festival da Ilha de Wight. O irlandês queria se engajar em uma sonoridade mais voltada para o folk e o blues, algo que sentia estar perdendo progressivamente com suas formações mais voltadas para o rock. Com isso decidiu convidar Gerry McAvoy - baixista que conhecera em 1968 em Belfast, durante um show do Taste -, para seu projeto solo. Naquela época Gerry era baixista do Deep Joy, banda que já havia cruzado palco com Taste diversas vezes. Tanto o Taste, quanto o Deep Joy viviam a liberdade dos anos 60 e criavam uma espécie de som híbrido (rock, folk, blues, jazz...), misturando tudo o que havia influenciado suas linguagens. Por coincidência, as duas bandas acabaram quase ao mesmo tempo, bastou Gallagher fazer um telefone que Gerry já aceitava o convite. Ironicamente, essa nova formação nascida de maneira tão simples e espontânea, seria a mais duradoura na carreira de Gallagher. Ele e McAvoy tocaram juntos de 1970 a 1991, uma convivência musical tranqüila e frutífera segundo o próprio baixista. Não foi à toa que Rory conquistou um disco de platina pelo álbum Live in Europe em 1972 e o prêmio de músico do ano pela revista Melody Maker.
O guitarrista irlandês, quase sempre vestido com suas camisas de lenhador, havia construído uma imagem bastante carismática entre os músicos, a ponto de, em 1973, quando da saída do guitarrista Mick Taylor, ter sido convidado a integrar os Rolling Stones. De fato, chegou a gravar com eles por algumas noites em Rotterdam (Holanda), mas pouco depois acabou rejeitando o convite. Na época, a banda estava fazendo testes com vários guitarristas e, aparentemente, Mick Jagger queria que Gallagher entrasse, mas o irlandês percebeu que os demais estavam muito indecisos quanto à escolha. Como já havia shows marcados no Japão, e não estava se sentindo confortável com a indecisão da banda, resolveu partir e dar continuidade a sua carreira-solo.
Durante os anos 70 o guitarrista intensificou sua rotina de trabalho a níveis insalubres. Seu parceiro McAvoy lembrou, em entrevista informal concedida em 1997, que a banda chegava a fazer mais de 200 shows anuais. Este processo levou-os a um conhecimento mútuo absurdo, o que ampliava a possibilidade de experimentar improvisos ao vivo, embora ao mesmo tempo desgastasse e automatizasse suas atuações. Gallagher sentia dificuldade em se adaptar plenamente às tendências de mercado e a conseqüente rotina. McAvoy sempre citou com certa insatisfação a turnê realizada com Rush naquele período já que, a banda do guitarrista Alex Lifeson estava nos moldes do grande mercado de rock e tinha estrutura para agüentar shows em grandes arenas. Gallagher preferia shows menores e turnês mais curtas.
Logo após o lançamento do disco Calling Card - de 1976-, o guitarrista dispensou o tecladista Lou Martin, retomando a forma de trio de que sentia falta. Na verdade havia começado a perceber que sua carreira poderia entrar em letargia se não houvesse um redirecionamento e, a partir disso, adicionou uma boa dose de peso ao disco Photo Finish de 78, repetindo a bem sucedida receita com Top Priority de 79. Ao permitir que o rock preponderasse em suas composições, conseguiu conquistar um público que nunca antes havia ouvido seu nome e seu som, o que certamente lhe propiciou uma maior vendagem. Os dois discos renderam ótimas críticas e uma rica turnê, resultando ainda em um terceiro disco, agora ao vivo. Stagestruck - de 1980- talvez a turnê mais bem-sucedida de sua carreira, resume todo o seu trabalho realizado nos anos oitenta.
De 81 a 91 o trio se manteve com o fiel McAvoy integrando agora Brendan O´Neill na bateria, mas a necessidade de secundarizar o blues para ganhar público ainda desagradava o espírito de Gallagher.
A voracidade das gravadoras e a conseqüente transformação de seu som começaram a deprimi-lo, fazendo com que sua saúde, tanto física quanto psíquica, começasse a se abalar. Gallagher não conseguia controlar a bebida, fato que costumava ligar ao seu amor pelo blues. Sempre brincando, dizia que a sonoridade melancólica do gênero fazia mal à saúde de qualquer pessoa. Na verdade, sua carreira àquele ponto estava começando a mexer com sua cabeça. Ao mesmo tempo em que mostrava serenidade e segurança quanto ao próprio som, ele não agüentava críticas diretas reagindo de maneira implosiva. Um de seus empresários tratou-o muito mal em uma turnê pela Holanda em 84, e voltando pra casa no natal deprimiu-se muito. Desgastado e descrente, cancelou todos os shows marcados para os meses seguintes, ficando trancado dentro de casa até abril do ano seguinte.
Gallagher só piorava. Quando dava as caras, estava sempre de óculos escuros porque já havia se tornado fotofóbico. Comentava que qualquer feixe de luz que recebia diretamente doía-lhe muito os olhos. Pouco a pouco, tornou-se obsessivo fazendo com que fatores de desordem específicos maltratassem terrivelmente seu humor. Chegou a não mais conseguir ficar em um quarto onde se dispusessem quadros pela parede, porque se sentia compelido a alinhá-los. Estava doente com o fígado debilitado pelo excesso de bebida. Em um tributo a ele - publicado na Hot Press em julho de 1995 – Gary Moore define o guitarrista como um homem atencioso. Alguém que se complicava com mulheres, com a lei e com a bebida, mas se importava mais com os colegas do que consigo. Não tinha o costume de falar sobre os próprios problemas, bastava que lhe dessem um pouco de atenção e ele mesmo queria escutar os problemas dos outros. Sofria de uma carência intrínseca que se agravou com sua debilidade.
Em 1994 sua saúde chegou a um estado crítico, e no ano seguinte já se tornava irreversível. Mais de 2/3 do fígado de Gallagher já se mostravam comprometidos pelo uísque diário do qual ele não abria mão. A última imagem que os fãs puderam acompanhar foi em seu derradeiro show de fevereiro de 1995 na Holanda, onde se via um homem já cansado, magro, muito pálido e muito menos vibrante. Era um homem claramente vencido, embora insistente. Cinco meses depois, submeteu-se a um transplante de fígado no King´s College Hospital de Londres do qual não se recuperaria. A baixa resistência levou-o a desenvolver uma pneumonia pós-operatória. Quando hoje se escuta “Too much alcohol”, composta por ele tantos anos antes, parece que ele já havia sonhado o próprio fim. Morreu no hospital na noite do dia 14 de julho de 1995.
Gostei da breve história do kra... realmente ele toca MUITO...
Posted by xxx | sexta-feira, novembro 10, 2006
"Breve"?
Posted by Anônimo | sábado, novembro 11, 2006
buuuuu
que troço mais chato
Posted by Yuri | domingo, novembro 12, 2006
"A voracidade das gravadoras e a conseqüente transformação de seu som começaram a deprimi-lo, fazendo com que sua saúde, tanto física quanto psíquica, começasse a se abalar."
"ele não agüentava críticas diretas reagindo de maneira implosiva."
"Sofria de uma carência intrínseca que se agravou com sua debilidade."
Como você sabe dessas coisas? Como afirmar com certeza que ele sofria de uma carência intrínseca ?
Posted by Pedro Pimenta | domingo, novembro 12, 2006
Pimenta,
a-)leia mais sobre jornalismo literário.
b-) Informações mais pessoais e detalhadas você consegue com pesquisa, rever entrevistas que ele concedeu, amigos dele concederam, familiares....enfim...pesquisando e não resmungando você descobre essas coisas.
c-) pau no seu respectivo cu.
d-) Anônimo, você queria uma vida inteira tratada mais brevemente ainda?
e-) se fosse sobre o John Lennon o Yuri não vaiava.
f-) obrigado pelas críticas.
Posted by Nícolas Brandão Silva | segunda-feira, novembro 13, 2006
ow, na boa
até hoje, não houve nem UMA VEZ, em que eu respondesse negativamente à alguma coisa que o nicolas fez, sem ele reagir na defensiva.
sossega, eu não gostei, isso não quer dizer que é ruim.
e outra, cara, não vou explicar de novo sobre o john lennon,
quem o está idolatrando vestido de mim é você, digo, você que finge que eu o faço.
estou bem, tranquilo, vamos falar sobre uvas sem caroço?
Posted by Yuri | terça-feira, novembro 14, 2006
ah, e mais, você não pega um leitor que duvidou do que você escreve e diz:
"leia mais sobre jornalismo literário"
é como publicar uma matéria e colocar no rodapé:
"não entendeu? não gostou? não é por que eu sou ruim, você que é"
hehehehe
Posted by Yuri | terça-feira, novembro 14, 2006
uma coisa é não gostou, como você fez e tudo bem...
outra coisa é duvidar de um fato, que nem é polêmico, sobre uma matéria BIOGRÁFICA. É muito querer me encher o saco.
Não falei que os chineses estão cada vez mais pobres, ou que a culpa por Cuba estar como está é dela mesma.
Só pesquisei a vida de um cara. O Pimenta, que eu amo de paixão, fez bem pra me encher o saco.
Você não gostar sussa...
E você já falou mal de vários textos meus do vibrissas e muitos eu até concordei que eram ruins. Então é mentira que eu só fico na defensiva...
esobre as uvas, eu prefiro as claras e sem caroço...e a panqueca de catupiry tava foda mesmo.
E seu cobertor me dá rinite.
E o Pedro ainda ta com crédito comigo, mesmo me pentelhando, porque ele me ofereceu uns queijos fodas, e uma companhia agradável outro dia.
Posted by Nícolas Brandão Silva | terça-feira, novembro 14, 2006
...mas é certo...não vou mentir.
eu to mais é defendendo meu ego ferido mesmo.
não tenho carinho especial por essa matéria...
nenhum carinho de verdade.
ficou pra quem interessasse.
Posted by Nícolas Brandão Silva | terça-feira, novembro 14, 2006