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É a Vida (ou Catarse) pt.2

O terceiro ato aconteceu no próprio Outs. Após passarmos pela prodigiosa segurança, entramos no recinto que, à primeira vista, estava às moscas. Novamente nos deparamos com o velho problema de encontrar um lugar para se sentar. Enquanto isso, eu assistia à única coisa que não fora tomada pela penumbra do local: um imenso telão, que passava um documentário sobre os Beatles. Até que, ao primeiro sinal de cadeiras sem dono, avançamos sobre uma mesa vazia como urubus atacando uma peça de carniça.

Já passava da meia-noite e o lugar finalmente começava a encher de gente. Mas não havia nenhum sinal de que o show começaria. Pelo contrário, tudo levava a crer que isso estaria longe de acontecer. Dei uma rápida passada no andar de cima e vi um ambiente totalmente escasso. Para algo que deveria ser uma danceteria, somente avistei pessoas dançando ou com a parede ou com o nada, enquanto eu ziguezagueava-os até encontrar o sanitário.

De repente, já de volta ao térreo, acontece uma movimentação no palco. Mas logo se percebe que não são os caras do Gram. Qualquer pessoa, mesmo que não seja fã dos caras, sabe que não há nenhuma mulher na banda. Além disso, a qualidade artística deles em nada se assemelha com o que ouvia naquele "show" de abertura. Incrível como a misteriosa banda - que depois descobri que se chama Blue Bell - conseguiu destruir alguns clássicos do rock, como London Calling, do The Clash - aliás, uma das poucas músicas que eu consegui identificar diante do barulho confuso das guitarras altamente distorcidas e dos gritos histéricos da vocalista. Poderia até imaginar que eles estariam tocando sob efeito de algum psicotrópico se eu não tivesse confirmado essa informação com uma fonte, que disse ter identificado os integrantes na mesma padoca em que nos localizávamos outrora e onde no qual eles se embebedaram pra valer.

Após o fim da apresentação (que pareceu durar uma eternidade) dos Blue Bell, não tardou para a atração principal subir ao palco. Já eram quase duas horas da matina e o Gram ainda arrumava suas coisas, exceto o baterista, que batia um papo no meio da multidão. Em poucos minutos, enfim, o show começou. Eles abriram tocando uma música do novo Cd que eu não consegui identificar ainda, mas que deixou a platéia animada. Depois, seguiu-se com Toda Luz, que levou os presentes ao delírio. Mais adiante, Sérgio trocou seu violão pelo teclado e começou a tocar Moonshine.

Aliás, é interessante ressaltar a presença de palco do cara. Não bastasse ter que cantar e decorar as letras das músicas, Sérgio ainda se alterna entre o violão, a guitarra e o teclado/sintetizador - e tocando de maneira impecável. E o mesmo vale para o restante da banda - tirando o guitarrista, que acabou errando uma porção de vezes durante a apresentação, inclusive tiveram que repetir a introdução de É a Vida, que saiu extremamente bisonha.

No todo, os caras tocaram praticamente o primeiro álbum inteiro e boa parte do segundo, isso se não foi ele completo. E nenhuma música passava incólume pela platéia, que vibrava a cada canção e participava intensamente do show. Até que no final veio o ápice, o grande momento de catarse, com a música Você pode Ir na Janela. Durante os longos minutos que foram tocados, o público ficou arrepiado e muitos acabaram por liberar suas emoções, caindo em prantos.

E quando todos achavam que o ponto alto já tinha sido alcançado, eis que a banda volta para um bis - por sinal, meticulosamente arquitetado por eles, como acabei descobrindo mais tarde. Nesse retorno, eles tocaram Tem Cor e, para fechar com chave de ouro, Come Together dos Beatles. Como os integrantes já tiveram uma banda cover dos reis do iê-iê-iê, nem é preciso dizer o quão perfeito foi a interpretação, levando o público novamente ao delírio e encerrando a noite em alto nível.

O vocalista Sérgio, esbanjando simpatia, ainda teria fôlego para conversar com o pessoal. Parava para atender a cada fã que aparecia e conversava abertamente com todos. Para nós, inclusive, revelou alguns detalhes de projetos secretos que anda arquitetando pelo mundo afora. Se não me engano, ele prometeu uma nova revolução musical - ao estilo dos anos 60/70 - ou algo do tipo, se não estou errado.

E já passava das três e meia da madrugada, quando finalmente conseguimos ir embora. Após passarmos por uma fila que só não era mais lenta do que fila de xerox, voltamos à marginalidade da carcomida rua Augusta, cujo clima era o de fim de feira - inclusive o cheiro de peixe era o mesmo. Sem um pingo de álcool no cérebro, estava pronto para voltar o mais rapidamente para casa e ir dormir, deixando para trás esse mundo de vilanias e perversidades [final clichê].

Fotos (ou imagem expressionistas) por: Erika Saadi