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But love is not a victory march

Sobre ele, Bob Dylan disse que "é algo para se descobrir aos poucos e intensamente". Bono Vox o definiu como "uma gota cristalina em um oceano de ruídos". Robert Plant, Jimmy Paige e tantos outros ícones da música o aclamaram. E quase 10 anos após sua morte, Jeff Buckley ainda tem muitos a quem emocionar.

A primeira vez em que ouvi Jeff Buckley - já adulta - foi no filme alemão Edukators. O filme, muito bom, já havia prendido minha atenção completamente quando de repente, ficou em segundo plano, com a aparição de uma voz estonteante. Na hora eu pensei "Meu Deus! Essa é a voz mais linda que eu já ouvi na minha vida...". Foi um experiência inédita para mim, uma simples voz, cantando uma música simples, me pertubou, emocionou e deu um nó na minha alma, tudo ao mesmo tempo.
Fazendo, então, uma "pesquisa" no grande Youtube, encontrei vários vídeos de performances ao vivo de Buckley, o que me deixou ainda mais perplexa: pela primeira vez eu ouvia e via um músico que visivelmente sente e incorpora cada nota que toca, cada palavra que canta. Chega a arrepiar. Aquela voz que muda de muito grave para muito aguda, de um milésimo de segundo para outro... É tão bom que acho impossível ouvi-lo sem repetir pelo menos umas três vezes cada música.
Grandes talentos, sabe, esses talentos puros, despretensiosos e admiráveis, sempre morrem cedo, por alguma injustiça injustificável do universo. Jeff Buckley, definitivamente, foi um deles.

Hereditariedade
Jeff Buckley nasceu na California, Estados Unidos, em 1966, fruto de um curto casamento entre os jovens Mary Guibert e Tim Buckley, posteriormente um aclamado músico folk, conhecido por sua voz super elástica. Tim abandonou a mulher e o filho pouco depois de Jeff nascer, com a finalidade de seguir sua carreira musical.
Aos oito anos, Jeff finalmente conheceu seu pai, mas por pouco tempo. Algumas semana depois Tim morreu de overdose de heroína - aos 28 anos.
Apesar da ausência do pai, Jeff sempre quis ser guitarrista e chegou, inclusive, a se formar no Musician's Institute (o que ele considerava uma verdadeira perda de tempo - vai ver porque talento não se aprende em escola).
Mas a verdade é que, ainda que experimentasse diversos estilos, do reggae ao punk, nas bandas em que tocava no começo da carreira, em todos Jeff Buckley evitava cantar - dizem que para evitar comparações com seu pai - e, portanto, limitava-se à guitarra e à composição.
Em 1991, no entanto, em um tributo ao seu pai, na St. Ann's Church, em Nova York, Jeff faz uma exceção e canta, de Tim, a música "I never asked to be your mountain", com o guitarrista Gary Lucas acompanhando-o. Todos os presente ficam admirados com a voz de Jeff, inclusive Lucas, mas foi sua versão a capella de "Once I was" que deixou a todos boquiabertos, em pleno silêncio de reverência. Ironicamente, Jeff não apenas era fisicamente parecidíssimo com o pai como também havia herdado a rara voz de quatro oitavas, possuindo o dom de hipnotizar pessoas.
Quando questionado sobre aquela apresentação em particular, Jeff disse "Sempre me incomodou que eu nunca pude ir ao funeral dele, nunca pude dizer nada a ele. Eu usei esse show para prestar minhas últimas homenagens".

O começo de tudo
Gary Lucas e Jeff Buckley formam, então, o duo de rock experimental "Gods and Monsters" e assinam contrato com uma gravadora reconhecida. Enquanto isso, Jeff continuou tocando em bares e pubs, especialmente no Café Sin-é - um dos seus locais favoritos - o que começou a atrair não apenas a atenção do público mas também dos executivos da Columbia Records, com quem Jeff grava um EP de quatro músicas, lançado em 1993. Ainda neste ano, a dupla se separa e Jeff convoca outros músicos para ajudá-lo na gravação de seu primeiro álbum entitulado "Grace" e lançado em agosto de 1994. Rapidamente, "Grace" cai nas graças da crítica (desculpem o trocadilho) e é elogiado por músicos de grande prestígio como Elton John, Elvis Costello, Patti Smith e Paul McCartney.
No álbum, além das composições de Jeff, como "Grace", "Last Goodbye" e "Mojo Pin", aparecem três covers: "Lilac Wine", versão de Nina Simone, "Corpus Christi Carol" e "Hallelujah" de Leonard Cohen, esta última considerada o "carro alegórico" do álbum. Aliás, há praticamente um consenso entre os entendidos de música de que Buckley se "apropriou" de "Hallelujah" e deu a ela a melhor versão. De fato, ainda não ouvi nenhuma versão que encarnasse tanto o significado da melodia, suas emoções, quanto a de Buckley.

O Reconhecimento
Depois do lançamento de "Grace", considerado um dos melhores álbuns do ano, Jeff Buckley realiza algumas turnês pelos Estados Unidos, Europa e Oceania e faz, até mesmo, uma turnê em que se apresenta apenas com pseudônimos - o melhor deles "Possessed by Elvis" - porque "havia uma época , não faz muito tempo, em que eu me apresentava em um café e simplesmente fazia o que eu faço, fazia música, aprendia com a minha música, explorava o significado disso para mim e me divertia enquanto irritava ou entretia o público que não me conhecia nem o que eu propunha. Em situações como essa, eu tenho o precioso e insubstituível privilégio do fracasso, do risco, da rendição. Eu amo isso e senti falta quando isso desapareceu. Só o que estou fazendo agora é pegando isso de volta".
Em 1995, "Grace" é condecorado com disco de ouro, Jeff recebe o "Gran Prix International Du Disque", prêmio da indústria fonográfica francesa, e também é indicado como Melhor Revelação do Ano no MTV Awards. No mesmo ano, Jeff leva o 12º lugar na lista dos "50 Mais Bonitos do Ano" da Revista People, o que o deixa irritado por figurar em um revista mais por sua beleza do que por seu trabalho, contribuindo ainda mais para sua aversão à mídia mas despertando atenção dos que queriam saber "quem é esse rosto bonito?".
Ao final da turnê de 96, Jeff começa a compôr para um novo álbum que receberia o título de "My Sweetheart the Drunk". Em 97, ele se muda para Memphis, no Tennesse - eternizada por Elvis - e os planos para o novo álbum se concretizam cada vez mais.

A Injustiça
Em maio de 97, no entanto, as forças da criação resolvem colocar seus próprios planos em prática. Enquanto a banda recrutada para o novo álbum chega à Memphis, Buckley resolve nadar no Wolf River, afluente do rio Mississipi, de roupas e botas, enquanto seu amigo Keith Foti prefere ficar à margem do rio, junto à guitarra e ao rádio que tocava "Whole Lotta Love". Jeff cantarolava a música e, depois que Foti afasta a guitarra e o rádio das ondas provocadas por um barco que passara, nota-se o silêncio. Jeff havia desaparecido. Foti chama a polícia que inicia as buscas por Jeff. Apenas quatro dias depois, em quatro de junho, o navio de passageiros "American Queen" avista seu corpo. Uma morte até que poética, considerando que ele cantava Led Zeppelin e que o corpo foi encontrado próximo à rua berço do Blues.
A causa da morte foi dada como afogamento acidental e não foram encontrados resquícios de drogas em seu organismo. Apesar disso, há quem ainda não descarte a possibilidade de suicídio, já que dias antes ele havia confessado para algumas pessoas próximas que sofria de Transtorno Bipolar Maníaco-Depressivo.
Ele tinha 30 anos.

A Saudade
Sua morte chocou a todos seus admiradores e em 1998 a Columbia Recods lança o álbum póstumo no qual Jeff trabalhava "Sketches from my Sweetheart the Drunk". Em 2000 é lançado o álbum "Mistery White Boy", de canções ao vivo, e o DVD "Live em Chicago" (DVD extraordinário, "must have" de qualquer devdeteca), o que evidencia alguns detalhes de sua vida. "Songs to no one", álbum com mais canções ao vivo e EPs, é lançado em 2002 e o lançamento mais recente é "Grace Legacy Edition", edição especial em comemoração aos 10 anos do álbum.
Por causa de seu talento e por ser uma pessoa querida por todos, Jeff Buckley influenciou muita gente, como o Coldplay, e também ganhou diversas canções de homenagem como "Memphis" de Pj Harvey e "Bandstand in the sky" de Thom Yorke. Além disso, um filme sobre sua vida será lançado em 2008.
Seu breve e magnífico legado perpetuam a boa música em um cenário tão midiático, confuso e superficial como o de hoje. Jeff Buckley não tem fãs, tem admiradores que fazem o possível para fazer de sua alma uma mensagem conhecida e eterna.

Infelizmente, os bons sempre nos deixam antes. Felizmente, eles não morrem nunca.
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Coloco aqui duas das minhas favoritas (embora seja difícil apontar uma favorita...)
Não é uma regra, mas aconselho assistirem aos videos de madrugada, no escuro e com calma. E muitas vezes.


"Hallelujah"



"Grace"

Ju ... mandou muitoooooooooo bemmm :D ...

Bjo Jonatas Carneiro

Ju, ainda não tive tempo para ouvir, mas a biografia do Jeff Buckley ficou animal. Parabéns.

Muito bom post.
Aprendi mais algumas coisas sobre o Jeff!
Fiz uma homenagem ao homem no meu blog.
Se ficar curioso, passe por lá.
Um abraço.

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