A vida não tem sido fácil para os "gunners". O Arsenal vem de uma sequência de jogos difícies e ininterruptos já há pelo menos duas semanas. Primeiro foi a vitória nos pênalties frente ao aguerrido Birminghan jogando em casa pela Copa da Inglaterra. Nem se passaram três dias e mal os atletas do Highbury Stadium recuperaram o fôlego, já tinham de encarar o peso do líder da Premiere League, o invicto Newcastle. O conflito ficou no 0x0, graças as ótimas defesas de Warmuz, que fechou o gol dos vermelhos. Agora o Arsenal encontra o Borussia Dortmund pela Copa dos Campões da Uefa no que promete ser um embate dificílimo, ainda mais se considerarmos a ausência de jogadores indispenséveis, como Patrick Viera, Thierry Henry, David Seaman e Denis Bergkamp, todos lesionados. Ainda sim, mesmo com dois jogos a menos que o vice-líder Blackburn, os gunners mantêm a quinta posição na tabela. O russo Vassilis Vassikoulos, que assumiu a direção da equipe no início do ano, tem agradado aos torcedores. "Vassikoulos está fazendo um bom trabalho. A somatória de boa parcela de vitórias consectuivas tem dado ao time um grande moral e esperamos usufruir desse bom estado de espírito para angariar títulos importantes", afirma sem pestanejar o torcedor Steve Mcbride, vendedor de guarda-chuvas em Westminster, Londres.
E o prêmio cult vai para Karas na balada. Um macaco de dois metros de altura em plena Tóquio "disfarçado" com um poncho peruano. Detalhe: ninguém percebe.
Ana Moser é Ana Moser, e até quem não entende de vôlei sabe de sua importância para o esporte. Com 17 anos de seleção brasileira no currículo, três Olimpíadas, uma medalha de bronze em 96, quatro finais de Grand Prix e dois títulos de Mundiais Interclubes, entre outros feitos, a ex-atacante assumiu um novo compromisso social na formação de atletas. Além de dirigir a ONG Ana Moser Sports – Voleibol Escolar, Ana também empresta um pouco de seu talento para o Circuito Sesc de Esportes, onde ministra clínicas de sua modalidade.
A iniciativa envolve diversos atletas de renome como Janeth, Hugo Hoyama, Gustavo Borges e Nelson Prudêncio, e atrai alunos das escolinhas da entidade e interessados de fora. Nesta sexta-feira, foi a vez de Ana Moser repetir o que já havia feito nas unidades Santana, Sorocaba e Campinas, e ministrou mais uma das voluntariosas clínicas.
Segundo Afonso Corrêa Alves, um dos organizadores, cerca de 120 pessoas comparecem às palestras, e 40 ou 50 participam das sessões práticas. “O objetivo é desmistificar o atleta, é quebrar a barreira entre o mito e o público”, explicou Afonso, na clínica ministrada na unidade Pinheiros.
Eram cerca de 45 homens e mulheres, alguns já não tão jovens, que se sentaram na quadra e ouviram atentamente à apresentação de Ana Moser, descrevendo toda sua trajetória (nunca é demais). Acompanhada de dois instrutores de seu projeto social, ela fazia algumas piadas para seus pupilos, e revelou que, em suas palavras, “o bronze em Atlanta foi o momento mais importante da carreira”.
Antes de comandar uma série de exercícios, ela criticou muito a falta de estrutura que afundou o vôlei cubano (“elas passavam meses treinando no Japão, na Europa”) e brincou com a rivalidade que existia com Regla Torres e Carbajal, já que as agressões “eram apenas verbais. Eu não sou violenta”.
Para quem estava ali, pouco importava as agressões, o importante era estar perto de Ana Moser. A estudante Ana Cláudia B. dos Santos, de 26 anos, veio para acompanhar duas amigas, e só ficou de fora porque veio de calça jeans. “Ela sempre foi meu ídolo”, revelou ela, desanimada por ter que acompanhar do lado de fora.
De fato, Ana Moser é Ana Moser, é até quem não entende de vôlei sabe que ela pode falar como poucas pessoas sobre o vôlei brasileiro. Pouco antes de começar a clínica, ela falou com este humilde estudante caipira de jornalismo, e pôde analisar o desempenho das seleções masculina e, principalmente, feminina nos Mundiais quase simultâneos da modalidade. Ana comentou ainda a situação das atletas e do vôlei no Brasil e revelou: não gostaria de entrar na comissão técnica de José Roberto Guimarães. Pelo menos agora.
Confira a entrevista abaixo:
Mário Flamejante: Como jogadora da seleção até 99, como você avalia o desempenho das seleções masculina e feminina nos Mundiais de vôlei? Ana Moser: Bom, o Mundial masculino está rolando. O Brasil passou pela primeira fase, que era o certo. Agora, a grande definição vai ser na segunda fase, pra ver se fica entre os quatro. E deve ficar. É superfavorito para manter a hegemonia que tem tido nos últimos anos. O feminino quase chegou lá. Está com um grupo forte, muito bom, e que é novo, ainda tem muito a ganhar em maturidade e já está com bons resultados. Quase deu para a gente ficar em primeiro, o que seria uma coisa inédita. Elas conseguiram ter um padrão de jogo, talvez o melhor dos últimos tempos. Este trabalho tem dois anos, começou depois das Olimpíadas de Atenas. Temos que acompanhar o desenvolvimento deste grupo até o Pan-americano, onde elas devem chegar bem, e pra ver como elas vão chegar nas Olimpíadas de Pequim.
MF: Com relação as Olimpíadas, a derrota no Mundial foi a segunda ‘traumática’ para a Rússia, repetindo o que havia acontecido em Atenas. Você acha que isso pode despertar uma rivalidade com as russas, a exemplo do que acontecia com Cuba na década de 90? Ana Moser: A rivalidade você tem com os melhores times. A derrota para a Rússia em Atenas não tem nada a ver com esse jogo de agora. Além de serem dois grupos diferentes, as duas seleções perderam jogando até o fim, mas neste jogo elas caíram de pé. O outro realmente foi traumático, elas demoraram um tempo para recuperar. Eu mesma fiquei um bom tempo sem conseguir ligar para o pessoal da seleção, não sabia nem o que dizer. Isso eu, que tinha ficado de fora. Imagine elas! Mas este grupo não. Temos que ver o que fazer para vencer a Rússia, que realmente é um time que está se mostrando forte. Mas também temos outros adversários: Itália, Cuba... A gente não deve levar para esse lado de trauma, nem de rivalidade excessiva. Rivalidade há, lógico. São os melhores times, e têm que estar mesmo se preocupando um com o outro.
MF: Não se ouve mais falar em atacantes de ofício, como quando você jogava. Quem você vê como a nova Ana Moser na seleção? Ana Moser: Cada jogadora tem um estilo. Hoje, o Brasil está com boas jogadoras de extrema... Tem a (oposto) Sheilla, que joga mais pela saída, mas vem muito pelo fundo; tem também as três ponteiras: a Mari, a Jaqueline e a Paula. Quatro com a Sassá. Acho que vai ficar muito entre essas quatro jogadoras, que vão ficar se revezando, já que são jogadoras muito parecidas, e que têm um bom nível de recepção, importante para uma ponteira: poder ajudar bastante na recepção e segurar as bolas de segurança no ataque. Elas estão crescendo, estão amadurecendo. O time está muito bom.
MF: A Walewska, a Fofão e a própria Sheilla estão indo para a Itália, repetindo um fenômeno que já acontece na seleção masculina. Você acha que isso fortalece a seleção feminina? Isso pode acabar enfraquecendo a Superliga? Ana Moser: As duas coisas. Fortalece a seleção, porque elas vão jogar um campeonato muito mais forte que a Superliga, com mais equipes boas, mais jogos difíceis, e contra essas jogadoras que enfrentam na época de seleção. A própria Waleska declarou que melhorou muitíssimo o bloqueio dela jogando na Itália. Não por treinamento, mas por experiência. Enfraquece sim a Superliga, mas a culpa é da própria Superliga e do vôlei de clubes no Brasil, que têm que buscar uma reorganização para voltarem a ser atrativos. A cada ano, você vê um número menor de equipes, principalmente no feminino, o que é muito ruim. Daqui a pouco, nós vamos virar um país de seleção, sem clubes.
MF: Quando a sua geração começou e acabou conquistando a medalha de bronze nas Olimpíadas de Atlanta, o vôlei brasileiro ainda não tinha a estrutura que tem em Saquarema, RJ. Como você acha que seriam os resultados daquela geração com esse apoio que o vôlei tem hoje? Ana Moser: Acho que totalmente iguais. Não mudaria nada, porque a gente tinha estrutura de treinamento aonde a gente ia, buscava essa estrutura. Acho uma bela obra, mas não é primordial para o desenvolvimento das equipes. Lugar para treinar é o que não falta no Brasil.
MF: O vôlei brasileiro tem uma deficiência de levantadoras? Ana Moser: Enquanto a Fofão jogar, não. Enquanto ela jogar, estamos bem. A Fernanda (Venturini), que parou, e ela são jogadoras acima da média. A gente fica mal-acostumado mesmo. As outras que a gente tem no Brasil são levantadoras boas, que estão na média. A diferença é muito grande. Acho que se a Fofão continuar jogando até Pequim, o time só vai continuar crescendo. Se ela parar antes, vai haver uma mudança grande. Vamos ter que reconstruir, e algumas das levantadoras que estão sendo trabalhadas como opção terão que passar por um desenvolvimento muito rápido. Mas é tudo uma questão de esquema, de como se constrói uma equipe. Você vê a equipe da Rússia: a levantadora (Marina Akulova) é fraca, e não seria titular do nosso time nem sem a Fofão. E foi campeã mundial! É tudo uma questão de montar um time dentro da realidade das peças que tem.
MF: O vôlei, o basquete e o handebol, por exemplo, têm um considerável suporte financeiro por parte dos órgãos federais. Por que o vôlei dá tão certo e o handebol e o basquete têm alguma dificuldade para trazer resultados favoráveis? Ana Moser: O handebol é um esporte que está em uma ascendente. Eu me lembro que, em 88, 92, o handebol não chegava nem perto de Olimpíadas. Hoje, o masculino já se classifica na América Latina, brigando com a Argentina. O feminino, eu não sei direito, mas eu sei que tem bons resultados. É diferente do basquete, que já esteve lá em cima, mas que não consegue voltar. Isso faz parte de uma estruturação de tudo, que começa pelo sistema das federações, da CBB... Daí é que começa: é essa estrutura que pode fazer um trabalho diferente. Porque jogador a gente tem. O Brasil está cheio de jogadores na Europa e na NBA.
MF: Você tem um projeto social bastante desenvolvido, o Ana Moser Sports – Voleibol Escolar. Você toparia assumir o projeto de estruturação de um time, ou até o cargo de treinadora? Ana Moser: Não, não é minha prioridade agora. A grande mudança da minha vida foi me dedicar a um trabalho que envolva um número grande de pessoas. Quando eu estive na seleção (na parte técnica, entre 2003 e 2004), eu tive um impacto: você tem 24 horas por dia para cuidar de 12, 15 jogadoras. Eu posso dedicar o mesmo tempo e cuidar de três mil alunos. São atividades bem diferentes, e hoje eu estou muito ligada a uma. Seria difícil fazer as duas coisas.
MF: Nem se o Zé Roberto te chamasse para a seleção de novo? Ana Moser: Eu já estive com ele. Desde quando ele entrou, em 2003, até pouco antes do Grand Prix e das Olimpíadas (ambos em 2004). Foi quando eles começaram a viajar e eu não consegui acompanhar. Nesse ritmo, é preciso acompanhar. Não é nem questão de chamar ou não. Se houvesse interesse, eu pediria para ele. Não sei se pela técnica, mas pela amizade, ele me ajudaria (risos). Mas não é o caso. É uma questão de prioridade, e eu acho que o momento é outro.
Em um brilhante exercício de antecipação, o Mário Flamejante adianta o que estará pulando em todos os sites de esporte dentro de poucas semanas. Fazemos aqui uma análise de como será o Mundial Interclubes que o Inter disputará no Japão em dezembro, na condição de favorito. É bem verdade que o Barcelona é mais favorito ainda e o América do México podem atrapalhar os gaúchos, mas ninguém - nem os são-paulinos - são capazes de falar que um tropeço do Inter é esperado.
O regulamento é simples. Auckland City (campeão da Oceania) enfrenta o Al-Ahly (campeão da África) pelo direito de enfrentar o Inter (campeão da Libertadores). Do outro lado, América do México (campeão da América do Norte, Central e Caribe) e Chonbuk Motors (campeão asiático) medem forças para encarar o Barça (campeão europeu). Os vencedores fazem a final. Mas até lá, o que podemos saber desses seis times?
Auckland City: Com a saída da Austrália da Confederação de Futebol da Oceania (OFC), a Nova Zelândia deve ter uma grande hegemonia no futebol local, e já começou comprovando com o título do Auckland City na Copa dos Campeões da Oceania. O problema do time é que, além de semi-amador, a concorrência local é fraca. Para que se tenha idéia, o adversário do Auckland na final foi o AS Piraé, do Taiti, vencido por 4x0 em casa. O grande mérito do time neozelandês é o famoso elemento-surpresa. Com aquele velho chavão de entrar como franco atirador, será difícil chegar sequer às semifinais ou ficar com o quinto lugar. Mas não é nada demais ter alguma atenção com o atacante sul-africano Keryn Jordan.
Al-Ahly: Ninguém é bicampeão continental a toa. É com esse pensamento que os egípcios do Al-Ahly irão ao Japão, de olho em uma campanha mais feliz que a de 2005, quando perdeu para Al-Itthad e Sidney FC e ficou na lanterna do torneio. O grande mérito do time, considerado o maior time africano do século XX segundo a Fifa, é o técnico português Manuel José, que comanda a equipe desde 2003, além do entrosamento do conjunto. Se quiser passar pela estréia, o Auckland City terá bastante trabalho para vencer o goleiro Essam El-Hadary, o habilidoso meia Mohamed Barakat e o perigoso centro-avante Emad Moteb, todos remanescentes da campanha de 2005.
Chonbuk Hyundai Motors: A equipe sul-coreana, também conhecida como Jeonbuk Motors, teve o azar de pegar, logo de cara, o América do México. Isso deve dificultar bastante a tarefa da equipe, que demonstrou bastante força no caminho (curto) até Tóquio. Para ser campeão da Liga dos Campeões da Ásia, o Chonbuk passou por equipes tradicionais, como o Gamba Osaka e pelo Ulsan Hyundai, antes de vencer a zebra síria Al-Karama na final. No elenco, o ex-vascaíno Botti tenta dar um toque de criatividade ao meio-campo, mas é Hyeung-Bum Kim quem tem saído do banco para surpreender. Além dele, o es-Ponte Preta e CRB Zé Carlo, autor do gol do título continental, é perigoso. Ao contrário do que têm feito alguns times asiáticos, a receita do banco é apostar em um comandante caseiro: o técnico é o sul-coreano Kang Hee Choi, que rege a forte marcação dos verdes.
América: O América surge como candidato ao título, embora dependa de tropeços de Inter - que enfrentaria na final - e Barcelona - adversário na semi. Depois de quebrar a hegemonia costarriquenha na Concacaf, os mexicanos chegam com força ao Japão, especialmente depois da campanha continental. É bem verdade que entrar apenas na fase final do torneio ajudou, mas as vitórias sobre Portmore United, Alajuelense e Toluca serviram para apenas confirmar a força do time. É bem verdade que Luis Hernandez não está mais no time, mas um jornada de Aaron Padilla pode dificultar as coisas para o Barça. As águilas, sob o comando de Luís Fernando Tena, podem contar ainda com Nelson Cuevas e com o experiente Cuauhtémoc Blanco (foto) para resolver as partidas.
Barcelona: O grande problema de ser europeu em uma competição como o Mundial é a obrigação de ganhar. Caso contrário, ficam todos com a cara que o esforçado Liverpool ficou em 2005. É o caso do Barça, que chega ao Japão com muito mais moral do que os reds chegaram, mas com uma série de problemas. Sem os perigosos e machucados Lionel Messi (foto) e Samuel Eto'o, o time dependerá da fase de Ronaldinho Gaúcho, que vem fazendo apresentações opacas desde o título da Liga dos Campeões da Uefa. Ainda assim, os blaugranas, comandados por Frank Rijkaard, são o melhor time do mundo e têm excelentes chances de título. Mesmo porque Ludovic Giuly e Eidu Gudjohnsen podem suprir com algum talento a ausência dos dois lesionados.
Inter: Depois de conquistar o título mais importante de sua história sobre o São Paulo, os colorados perderam um bocado da força que tinham após a Copa. Sem Tinga, Bolívar, Jorge Wágner e, especialmente, Rafael Sóbis, Abel Braga aposta em nomes como Iarley e Rentería. Ainda assim, a espinha dorsal do time foi mantida, com Clemer (que tem a revelação Renan de olho na vaga de goleiro), Ceará, Índio, Fabiano Eller, Edinho, Perdigão e Fernandão (foto). O time é um dos mais estáveis do Brasil nos últimos dois anos e, se souber não respeitar demais os adversários, pode acabar voltando do Japão com a taça. Mesmo assim, não é o principal favorito. Mesmo porque Abel resolveu levar quatro goleiros ao Japão e deixou de fora os criativos Léo e Caio, o que pode custar caro mais tarde.
Sobre ele, Bob Dylan disse que "é algo para se descobrir aos poucos e intensamente". Bono Vox o definiu como "uma gota cristalina em um oceano de ruídos". Robert Plant, Jimmy Paige e tantos outros ícones da música o aclamaram. E quase 10 anos após sua morte, Jeff Buckley ainda tem muitos a quem emocionar.
A primeira vez em que ouvi Jeff Buckley - já adulta - foi no filme alemão Edukators. O filme, muito bom, já havia prendido minha atenção completamente quando de repente, ficou em segundo plano, com a aparição de uma voz estonteante. Na hora eu pensei "Meu Deus! Essa é a voz mais linda que eu já ouvi na minha vida...". Foi um experiência inédita para mim, uma simples voz, cantando uma música simples, me pertubou, emocionou e deu um nó na minha alma, tudo ao mesmo tempo. Fazendo, então, uma "pesquisa" no grande Youtube, encontrei vários vídeos de performances ao vivo de Buckley, o que me deixou ainda mais perplexa: pela primeira vez eu ouvia e via um músico que visivelmente sente e incorpora cada nota que toca, cada palavra que canta. Chega a arrepiar. Aquela voz que muda de muito grave para muito aguda, de um milésimo de segundo para outro... É tão bom que acho impossível ouvi-lo sem repetir pelo menos umas três vezes cada música. Grandes talentos, sabe, esses talentos puros, despretensiosos e admiráveis, sempre morrem cedo, por alguma injustiça injustificável do universo. Jeff Buckley, definitivamente, foi um deles.
Hereditariedade Jeff Buckley nasceu na California, Estados Unidos, em 1966, fruto de um curto casamento entre os jovens Mary Guibert e Tim Buckley, posteriormente um aclamado músico folk, conhecido por sua voz super elástica. Tim abandonou a mulher e o filho pouco depois de Jeff nascer, com a finalidade de seguir sua carreira musical. Aos oito anos, Jeff finalmente conheceu seu pai, mas por pouco tempo. Algumas semana depois Tim morreu de overdose de heroína - aos 28 anos. Apesar da ausência do pai, Jeff sempre quis ser guitarrista e chegou, inclusive, a se formar no Musician's Institute (o que ele considerava uma verdadeira perda de tempo - vai ver porque talento não se aprende em escola). Mas a verdade é que, ainda que experimentasse diversos estilos, do reggae ao punk, nas bandas em que tocava no começo da carreira, em todos Jeff Buckley evitava cantar - dizem que para evitar comparações com seu pai - e, portanto, limitava-se à guitarra e à composição. Em 1991, no entanto, em um tributo ao seu pai, na St. Ann's Church, em Nova York, Jeff faz uma exceção e canta, de Tim, a música "I never asked to be your mountain", com o guitarrista Gary Lucas acompanhando-o. Todos os presente ficam admirados com a voz de Jeff, inclusive Lucas, mas foi sua versão a capella de "Once I was" que deixou a todos boquiabertos, em pleno silêncio de reverência. Ironicamente, Jeff não apenas era fisicamente parecidíssimo com o pai como também havia herdado a rara voz de quatro oitavas, possuindo o dom de hipnotizar pessoas. Quando questionado sobre aquela apresentação em particular, Jeff disse "Sempre me incomodou que eu nunca pude ir ao funeral dele, nunca pude dizer nada a ele. Eu usei esse show para prestar minhas últimas homenagens".
O começo de tudo Gary Lucas e Jeff Buckley formam, então, o duo de rock experimental "Gods and Monsters" e assinam contrato com uma gravadora reconhecida. Enquanto isso, Jeff continuou tocando em bares e pubs, especialmente no Café Sin-é - um dos seus locais favoritos - o que começou a atrair não apenas a atenção do público mas também dos executivos da Columbia Records, com quem Jeff grava um EP de quatro músicas, lançado em 1993. Ainda neste ano, a dupla se separa e Jeff convoca outros músicos para ajudá-lo na gravação de seu primeiro álbum entitulado "Grace" e lançado em agosto de 1994. Rapidamente, "Grace" cai nas graças da crítica (desculpem o trocadilho) e é elogiado por músicos de grande prestígio como Elton John, Elvis Costello, Patti Smith e Paul McCartney. No álbum, além das composições de Jeff, como "Grace", "Last Goodbye" e "Mojo Pin", aparecem três covers: "Lilac Wine", versão de Nina Simone, "Corpus Christi Carol" e "Hallelujah" de Leonard Cohen, esta última considerada o "carro alegórico" do álbum. Aliás, há praticamente um consenso entre os entendidos de música de que Buckley se "apropriou" de "Hallelujah" e deu a ela a melhor versão. De fato, ainda não ouvi nenhuma versão que encarnasse tanto o significado da melodia, suas emoções, quanto a de Buckley.
O Reconhecimento Depois do lançamento de "Grace", considerado um dos melhores álbuns do ano, Jeff Buckley realiza algumas turnês pelos Estados Unidos, Europa e Oceania e faz, até mesmo, uma turnê em que se apresenta apenas com pseudônimos - o melhor deles "Possessed by Elvis" - porque "havia uma época , não faz muito tempo, em que eu me apresentava em um café e simplesmente fazia o que eu faço, fazia música, aprendia com a minha música, explorava o significado disso para mim e me divertia enquanto irritava ou entretia o público que não me conhecia nem o que eu propunha. Em situações como essa, eu tenho o precioso e insubstituível privilégio do fracasso, do risco, da rendição. Eu amo isso e senti falta quando isso desapareceu. Só o que estou fazendo agora é pegando isso de volta". Em 1995, "Grace" é condecorado com disco de ouro, Jeff recebe o "Gran Prix International Du Disque", prêmio da indústria fonográfica francesa, e também é indicado como Melhor Revelação do Ano no MTV Awards. No mesmo ano, Jeff leva o 12º lugar na lista dos "50 Mais Bonitos do Ano" da Revista People, o que o deixa irritado por figurar em um revista mais por sua beleza do que por seu trabalho, contribuindo ainda mais para sua aversão à mídia mas despertando atenção dos que queriam saber "quem é esse rosto bonito?". Ao final da turnê de 96, Jeff começa a compôr para um novo álbum que receberia o título de "My Sweetheart the Drunk". Em 97, ele se muda para Memphis, no Tennesse - eternizada por Elvis - e os planos para o novo álbum se concretizam cada vez mais.
A Injustiça Em maio de 97, no entanto, as forças da criação resolvem colocar seus próprios planos em prática. Enquanto a banda recrutada para o novo álbum chega à Memphis, Buckley resolve nadar no Wolf River, afluente do rio Mississipi, de roupas e botas, enquanto seu amigo Keith Foti prefere ficar à margem do rio, junto à guitarra e ao rádio que tocava "Whole Lotta Love". Jeff cantarolava a música e, depois que Foti afasta a guitarra e o rádio das ondas provocadas por um barco que passara, nota-se o silêncio. Jeff havia desaparecido. Foti chama a polícia que inicia as buscas por Jeff. Apenas quatro dias depois, em quatro de junho, o navio de passageiros "American Queen" avista seu corpo. Uma morte até que poética, considerando que ele cantava Led Zeppelin e que o corpo foi encontrado próximo à rua berço do Blues. A causa da morte foi dada como afogamento acidental e não foram encontrados resquícios de drogas em seu organismo. Apesar disso, há quem ainda não descarte a possibilidade de suicídio, já que dias antes ele havia confessado para algumas pessoas próximas que sofria de Transtorno Bipolar Maníaco-Depressivo. Ele tinha 30 anos.
A Saudade Sua morte chocou a todos seus admiradores e em 1998 a Columbia Recods lança o álbum póstumo no qual Jeff trabalhava "Sketches from my Sweetheart the Drunk". Em 2000 é lançado o álbum "Mistery White Boy", de canções ao vivo, e o DVD "Live em Chicago" (DVD extraordinário, "must have" de qualquer devdeteca), o que evidencia alguns detalhes de sua vida. "Songs to no one", álbum com mais canções ao vivo e EPs, é lançado em 2002 e o lançamento mais recente é "Grace Legacy Edition", edição especial em comemoração aos 10 anos do álbum. Por causa de seu talento e por ser uma pessoa querida por todos, Jeff Buckley influenciou muita gente, como o Coldplay, e também ganhou diversas canções de homenagem como "Memphis" de Pj Harvey e "Bandstand in the sky" de Thom Yorke. Além disso, um filme sobre sua vida será lançado em 2008. Seu breve e magnífico legado perpetuam a boa música em um cenário tão midiático, confuso e superficial como o de hoje. Jeff Buckley não tem fãs, tem admiradores que fazem o possível para fazer de sua alma uma mensagem conhecida e eterna.
Infelizmente, os bons sempre nos deixam antes. Felizmente, eles não morrem nunca. ------------------------------------------------------ Coloco aqui duas das minhas favoritas (embora seja difícil apontar uma favorita...) Não é uma regra, mas aconselho assistirem aos videos de madrugada, no escuro e com calma. E muitas vezes.
Entender o conturbado contexto político na década de 70 não é fácil. Guerras, golpes e revoluções marcaram esses tempos gélidos. Mas o mexicano Roberto Bolaños conseguiu traduzir como ninguém a geopolítica dessa época. Com toques de genialidade, criou personagens perfeitos para encenarem essa alegoria, que pode ser subentendida em qualquer lugar do globo. Portanto, na visão de CHespirito, a geopolítica poderia ser resumida assim:
Dona Clotilde - Europa: Ela é elegante, rica e cozinha como ninguém, mas já está velha e acabada. Vive de seu passado de glórias e conquistas, mas hoje não passa de um motivo de piada para seus vizinhos. Às vezes tenta dar uma de durona, mas os sinais do tempo já estão expostos.
Sr. Barriga - FMI: Cobrador pontual e inexorável, nunca é bem recebido quando aparece. Dona Clotilde e Dona Florinda não tem nenhuma rixa com ele, mas Seu Madruga está sempre querendo fugir de suas cobranças. Seu Madruga - América Latina: É pobre, está cheio de dívidas e vive fazendo trambiques. Vez ou outra briga com Chaves, mas eles sempre acabam se reaproximando. Chiquinha é outra que nunca desgruda do pai. A ocasional ajuda da Dona Clotilde sempre vem a calhar, mas não ajuda-o a encontrar um lugar no mercado, o que o força a viver na informalidade. Infelizmente, faleceu nos anos 80. Chaves - Socialismo: Cheio de sonhos, ideais e boas intenções, consegue viver sozinho, isolado, sem o apoio de ninguém. Já foi acusado de ladrão e quando algo de ruim acontece, todos põe a culpa nele. É um grande amigo do Seu Madruga e da Chiquinha, e sempre se envolve em brigas com seu Barriga e com Quico. Por questões financeiras, está sempre com fome.
Chiquinha - Populismo: Filha de Seu Madruga, suas idéias só beneficiam a si mesma. Engana tanto Quico quanto Chaves e, quando necessário, vai encher o saco do seu Barriga. Não se dá bem com a Dona Florinda nem com Dona Clotilde e não teima em usar o recurso da mentira.
Quico - Capitalismo: Sustentado pela Dona Florinda, ele faz questão de esbanjar seus bens valiosos para todos. Sempre bem vestido, não mostra ter compaixão com o próximo, mesmo este estando com fome. Quando a coisa aperta, principalmente com ameaças de Seu Madruga, grita pelo socorro da mãe.
Dona Florinda - EUA: Rica e com grande força física, está sempre abusando de Seu Madruga - quase sempre injustamente. Ela é praticamente intocável, mas quando isso acontece, desconta no pobre Madruga. Está sempre mimando Quico e tem asco pela dita gentalha (Chaves e Chiquinha), além de ter um certo atrito com Dona Clotilde.
Professor Girafales - ONU: Apesar de ser um educador e um conciliador, ainda continua bastante atrelado a Dona Florinda, a quem dificilmente desaprova uma ação repressiva. Às vezes, ele não só acata como ajuda nos atos de violência dela. Além disso, ele praticamente mora na casa da Dona Florinda.
Pops - Canadá: Não fede e nem cheira. É parente de Dona Florinda e prima distante de Quico.
Um dos guitarristas mais brilhantes do século XX, o irlandês que construiu seu próprio império sonoro com uma só guitarra.
Diferente de qualquer história romântica sobre grandes guitarristas, pode-se dizer que o que aproximou o pequeno Rory da música foi, provavelmente, o tédio ou a possibilidade de entediar-se. Qual seria a diversão de um garoto com um pouco mais de dez anos de idade em um condado nos cafundós da Irlanda chamado Cork? Para a maioria da molecada seria jogar bola, subir em árvores, coisas assim, mas não para o pequeno Rory. O que ele achava divertido era imitar para os amigos artistas como Roy Rogers, Gene Autry e Elvis Presley, munido apenas de um ukulele - tradicional instrumento havaiano – de plástico que Rory ganhara dos pais. Essa brincadeira fez com que, aos nove anos de idade, decidisse comprar seu primeiro violão, concebendo, sem saber, o que seria o rumo de toda sua vida. Mais tarde, tudo ficaria claro quando de sua vitória em um concurso de talentos aos 12 anos de idade, conquistando um prêmio em dinheiro que logo se converteria em sua primeira guitarra.
Aos 15 anos, Gallagher visitou Crowley`s Music Center de sua cidade e legitimou o que já se mostrava óbvio. Desembolsando 100 libras adquiriu a guitarra que o acompanharia por toda sua carreira: uma legítima Fender Stratocaster1961 de segunda mão. Quando perguntado do porquê haver mantido sua Fender, Gallagher dizia que não sentia vontade de trocá-la, alegava que era sua companheira e tinha grande apreço por isso. Não foram poucas as vezes em que demonstrou verdadeira afetividade pelo instrumento e pelo ato de tocar. Dizia que sua guitarra fazia parte daquilo que chamava de sua “maquiagem-psíquica”, tocava sempre que se percebia emotivo. Não é difícil sentir essa devoção quando se escuta músicas como "A Million Miles Away" (do disco Tattoo), em que fica explícito que o guitarrista vivia aquilo de maneira intensa, e que a guitarra parecia gostar de ser tocada por suas mãos. Mesmo que sua relação com a Fender parecesse por vezes piegas, ele mesmo dizia que não se importava.
Com um carisma voltado para a simplicidade, Gallagher era dono de um som aterrador, tendo por influência figuras como Lonnie Donegan, Woody Guthrie, Leadbelly, Chuck Berry, Muddy Waters e Jerry Lee Lewis. Foi com estes ídolos que desenvolveu uma linguagem própria capaz de discorrer com segurança entre o rock efusivo e brilhante e a destreza valiosa na hora de improvisar, virtude esta que remetia à sua devoção pelo blues. "Mesmo que você não goste do gênero, é preciso ouvir muito blues para se ter consciência de quanto tempo é necessário até se chegar a ser um grande guitarrista. Eles é que entendem do riscado", disse certa vez em uma curta entrevista. A relação profunda que mantinha entre a dedicação ao instrumento e ao som característico de sua Fender era um dos fatores que norteavam sua simplicidade na hora de escolher equipamentos. Escolhia de fato? Rory se contentava em usar o ganho do amplificador que estivesse disponível. Empunhava sua Fender, ligava-a ao equipamento, entravam ele e a guitarra em simbiose total, e não se sabia quem comandava quem.
Em 1963 foi convidado a tocar na Fontana Show Band, sexteto com o qual excursionou pela Grã- Bretanha durante todo o ano seguinte. Foi durante essa turnê que teve a oportunidade de assistir aos Rolling Stones em Londres, fato que contribuiu para que a insatisfação com o som que fazia na Fontana passasse a aumentar. A banda se afastava do ideal de Gallagher em compor um som que se fundasse no binômio blues/rock pelo qual era completamente aficionado. Dois anos depois, a banda é renomeada para The Impact, Gallagher passou o ano realizando o que seriam suas últimas performances com os caras . Após se apresentar em uma base militar americana em Madri, o The Impact voltou pra Londres, cidade onde se separariam definitivamente.
Gallagher não poderia ainda perceber que o finado sexteto representava, de fato, o início de sua consagração. Foi no ano seguinte, de volta a Cork, que decidiu formar, finalmente, seu primeiro power trio, nomeando Eric Kitteringham para o baixo e Norman Damery para bateria. Inicialmente chamado de The Taste e, logo depois, apenas Taste, estava formado o trio que no final da década de 60 tentou assumir um posto ao lado do Cream e do Jimi Hendrix Experience como a santa trindade dos power trios britânicos e sem nada a perder para os demais.
O Taste conquistou fãs pela Grã-Bretanha logo na primeira viagem a Londres. O trio adquiriu um reconhecimento que nem eles próprios esperavam receber tão cedo. Na apresentação que fizeram no famoso Marquee Club, o público tremeu diante do mesmo homem de anos atrás, que se vestia como qualquer trabalhador irlandês, trazia a mesma Fender de sempre, mas tocava cada vez melhor. Foi nessa apresentação que atraiu a atenção e conquistou o respeito de John Lennon que imediatamente demonstrou admiração pelo som de Gallagher. Além do mais, para o beatle que se aproximava cada vez mais de sua postura iconoclasta, um homem de caráter afável como Gallagher, que não pretendia mostrar-se melhor que ninguém, era um prato cheio para um músico que pensava o artista como um representante de todos os homens.
O trio obteve ainda nova formação em 1968 - com Richard McCraken no baixo e John Wilson na bateria -, que durou até o fim do ano seguinte, dispersando-se logo depois do Festival da Ilha de Wight. O irlandês queria se engajar em uma sonoridade mais voltada para o folk e o blues, algo que sentia estar perdendo progressivamente com suas formações mais voltadas para o rock. Com isso decidiu convidar Gerry McAvoy - baixista que conhecera em 1968 em Belfast, durante um show do Taste -, para seu projeto solo. Naquela época Gerry era baixista do Deep Joy, banda que já havia cruzado palco com Taste diversas vezes. Tanto o Taste, quanto o Deep Joy viviam a liberdade dos anos 60 e criavam uma espécie de som híbrido (rock, folk, blues, jazz...), misturando tudo o que havia influenciado suas linguagens. Por coincidência, as duas bandas acabaram quase ao mesmo tempo, bastou Gallagher fazer um telefone que Gerry já aceitava o convite. Ironicamente, essa nova formação nascida de maneira tão simples e espontânea, seria a mais duradoura na carreira de Gallagher. Ele e McAvoy tocaram juntos de 1970 a 1991, uma convivência musical tranqüila e frutífera segundo o próprio baixista. Não foi à toa que Rory conquistou um disco de platina pelo álbum Live in Europe em 1972 e o prêmio de músico do ano pela revista Melody Maker.
O guitarrista irlandês, quase sempre vestido com suas camisas de lenhador, havia construído uma imagem bastante carismática entre os músicos, a ponto de, em 1973, quando da saída do guitarrista Mick Taylor, ter sido convidado a integrar os Rolling Stones. De fato, chegou a gravar com eles por algumas noites em Rotterdam (Holanda), mas pouco depois acabou rejeitando o convite. Na época, a banda estava fazendo testes com vários guitarristas e, aparentemente, Mick Jagger queria que Gallagher entrasse, mas o irlandês percebeu que os demais estavam muito indecisos quanto à escolha. Como já havia shows marcados no Japão, e não estava se sentindo confortável com a indecisão da banda, resolveu partir e dar continuidade a sua carreira-solo.
Durante os anos 70 o guitarrista intensificou sua rotina de trabalho a níveis insalubres. Seu parceiro McAvoy lembrou, em entrevista informal concedida em 1997, que a banda chegava a fazer mais de 200 shows anuais. Este processo levou-os a um conhecimento mútuo absurdo, o que ampliava a possibilidade de experimentar improvisos ao vivo, embora ao mesmo tempo desgastasse e automatizasse suas atuações. Gallagher sentia dificuldade em se adaptar plenamente às tendências de mercado e a conseqüente rotina. McAvoy sempre citou com certa insatisfação a turnê realizada com Rush naquele período já que, a banda do guitarrista Alex Lifeson estava nos moldes do grande mercado de rock e tinha estrutura para agüentar shows em grandes arenas. Gallagher preferia shows menores e turnês mais curtas.
Logo após o lançamento do disco Calling Card - de 1976-, o guitarrista dispensou o tecladista Lou Martin, retomando a forma de trio de que sentia falta. Na verdade havia começado a perceber que sua carreira poderia entrar em letargia se não houvesse um redirecionamento e, a partir disso, adicionou uma boa dose de peso ao disco Photo Finish de 78, repetindo a bem sucedida receita com Top Priority de 79. Ao permitir que o rock preponderasse em suas composições, conseguiu conquistar um público que nunca antes havia ouvido seu nome e seu som, o que certamente lhe propiciou uma maior vendagem. Os dois discos renderam ótimas críticas e uma rica turnê, resultando ainda em um terceiro disco, agora ao vivo. Stagestruck - de 1980- talvez a turnê mais bem-sucedida de sua carreira, resume todo o seu trabalho realizado nos anos oitenta. De 81 a 91 o trio se manteve com o fiel McAvoy integrando agora Brendan O´Neill na bateria, mas a necessidade de secundarizar o blues para ganhar público ainda desagradava o espírito de Gallagher.
A voracidade das gravadoras e a conseqüente transformação de seu som começaram a deprimi-lo, fazendo com que sua saúde, tanto física quanto psíquica, começasse a se abalar. Gallagher não conseguia controlar a bebida, fato que costumava ligar ao seu amor pelo blues. Sempre brincando, dizia que a sonoridade melancólica do gênero fazia mal à saúde de qualquer pessoa. Na verdade, sua carreira àquele ponto estava começando a mexer com sua cabeça. Ao mesmo tempo em que mostrava serenidade e segurança quanto ao próprio som, ele não agüentava críticas diretas reagindo de maneira implosiva. Um de seus empresários tratou-o muito mal em uma turnê pela Holanda em 84, e voltando pra casa no natal deprimiu-se muito. Desgastado e descrente, cancelou todos os shows marcados para os meses seguintes, ficando trancado dentro de casa até abril do ano seguinte.
Gallagher só piorava. Quando dava as caras, estava sempre de óculos escuros porque já havia se tornado fotofóbico. Comentava que qualquer feixe de luz que recebia diretamente doía-lhe muito os olhos. Pouco a pouco, tornou-se obsessivo fazendo com que fatores de desordem específicos maltratassem terrivelmente seu humor. Chegou a não mais conseguir ficar em um quarto onde se dispusessem quadros pela parede, porque se sentia compelido a alinhá-los. Estava doente com o fígado debilitado pelo excesso de bebida. Em um tributo a ele - publicado na Hot Press em julho de 1995 – Gary Moore define o guitarrista como um homem atencioso. Alguém que se complicava com mulheres, com a lei e com a bebida, mas se importava mais com os colegas do que consigo. Não tinha o costume de falar sobre os próprios problemas, bastava que lhe dessem um pouco de atenção e ele mesmo queria escutar os problemas dos outros. Sofria de uma carência intrínseca que se agravou com sua debilidade.
Em 1994 sua saúde chegou a um estado crítico, e no ano seguinte já se tornava irreversível. Mais de 2/3 do fígado de Gallagher já se mostravam comprometidos pelo uísque diário do qual ele não abria mão. A última imagem que os fãs puderam acompanhar foi em seu derradeiro show de fevereiro de 1995 na Holanda, onde se via um homem já cansado, magro, muito pálido e muito menos vibrante. Era um homem claramente vencido, embora insistente. Cinco meses depois, submeteu-se a um transplante de fígado no King´s College Hospital de Londres do qual não se recuperaria. A baixa resistência levou-o a desenvolver uma pneumonia pós-operatória. Quando hoje se escuta “Too much alcohol”, composta por ele tantos anos antes, parece que ele já havia sonhado o próprio fim. Morreu no hospital na noite do dia 14 de julho de 1995.
Cozinheiras mais experientes diriam que Didi perdeu a mão. Quem assiste A Turma do Didi, durante seu almoço de domingo, irá concordar com as quituteiras que opinarem, pois irão perceber: Renato Aragão está tentando reinventar a roda.
Quem acompanha sua tentativa frustrada de fazer um humorístico irá perceber que, o que ele quer, é repetir o sucesso de Os Trapalhões. O problema é que Didi tentou mudar o mínimo possível a fórmula. E onde o fez, fez errado.
Nota-se que são quatro integrantes que povoam o humorístico do domingo. Abrindo a série, Didi interpreta ele mesmo. Mas já sem a ingenuidade que tinha durante as décadas de 60, 70 e 80 com Os Trapalhões. Hoje, Didi é apenas um malandro que sempre se dá bem, fica com a garota bonita e sai por cima dos companheiros. Para quem viu Didi dar o fora em Dedé, Mussum e Zacarias e sair com ele mesmo, nada mais rasteiro do que a versão atual.
Em seguida, entra o galã do quarteto. Há 30 ou 40 anos, este era o papel de Dedé Santana. Atualmente no SBT com Dedé e o Comando Maluco, Manfried Santana ostenta uma senhora barriguinha aos 70 anos e vive às turras com Renato Aragão, mas tinha o dom de fazer humor com seu tipo nervosinho e galanteador. Algo que Marcelo Augusto é completamente incapaz no século XXI.
Não precisa ser genial para perceber que Jacaré é a tentativa de um novo Mussum. Não só por ser negro, o que seria a análise mais superficial. Mas assim como Mussum deixou Os Originais do Samba para se juntar à trupe, Jacaré trocou a 'carreira' de dançarino do É o Tchan! pela de 'humorista' com Didi. Nota-se que a escolha não foi muito acertada, uma vez que colocar Jacaré para ser Mussum é como escolher Paulo Zulu para o papel de Zeca Pagodinho.
Com todas essas eliminações, fica fácil perceber que Tadeu Mello é o novo Zacarias. Os dois são baixinhos, cheios de caretas, fazem personagens acanhados e exibem todas suas peculiaridades fonéticas. Cabe a Tadeu Mello, assim como cabia a Mauro Gonçalves, o Zacarias, o papel de maior estereótipo do grupo. A diferença é que o ex-radialista mineiro, morto em 1990, fazia isso com graça.
'Reforçados' com a participação especial de Kléber Bam Bam, os 'Novos Trapalhões': Marcelo 'Dedé' Augusto, Tadeu 'Zacarias' Mello e Jacaré 'Mussum'. Uma legenda cheia de aspas.
É um grande esforço para Didi a idéia de parar, assim como é ainda pior a idéia de mudar de rumo. É muito mais cômoda a política do 'time que está ganhando, não se mexe'. O problema é que a fórmula de Didi já foi campeã, mas começa a perder jogos. Seria melhor que ele pudesse mudar rápido, antes que sua aposta resulte em rebaixamento.