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O fracasso de Festival Express

Festival Express, está aí um filme que me decepcionou. Para quem não sabe, o Festival Express foi uma iniciativa de reunir músicos de diversas bandas de rock, blues e folk e excursionar pelo Canadá de Leste a Oeste com paradas periódicas para apresentações em diferentes cidades. Entre os nomes de destaque estão Janis Joplin (cuja música eu nunca apreciei e cuja pessoa sempre me amedrontou), The Band, Greatful Dead e Buddy Guy. Os nomes pesam, de fato, mas as apresentações deixam muito a desejar. O Greatful Dead parece mais um bando de jovens brancos evangélicos querendo pregar as palavras de Cristo; Buddy Guy tem na garrafa de uísque o seu braço direito, sem a qual seria incapaz de tirar três notas da guitarra surrada; Janis Joplin é assustadora em seus gemidos carentes e The Band, que chega a ser o único destaque entre os nomes já mencionados, não apresenta nada de especial. Para piorar, a execução das músicas é repetitiva e enfadonha, todas elas bebem na esgotada fonte do blues e as letras são um tanto quanto ingênuas. A experiência deve ter sido inesquecível para os músicos, de fato, que bebiam, comiam, faziam música, sexo e se entupiam de todo o tipo de entorpecentes até o amanhecer, tudo bancado por um avarento produtor estilo-macho-alfa-do-oeste sem muita visão de negócios. Ao fim do filme, você tem a leve sensação de que escutou uma só música ao longo de duas horas. Contudo, há uma razão de ser nisso tudo: 1970 é um ano de ruptura no mundo do rock, seja pelo fim dos Beatles, seja pelo aparecimento de novas bandas no jogo. Desde 1967 o rock já vinha amadurecendo com o lançamento de álbuns importantes, como Sargent Peppers Lonely Hearts Club Band, dos Beatles e The Piper at the Gates of Down, do Pink Floyd. O gênero deixava de ser um mero veículo de diversão para apreciadores mais ortodoxos que viam na música simplesmente uma forma de dançar e se distrair. O chamado "rock progressivo" tomava corpo com letras que tratavam de temas mais profundos à natuerza humana e ousadas melodias, que, não raro, ultrapassavam as próprias barreiras do rock 'n roll tradicional. Por isso Festival Express é tão sonolento, porque seus músicos pararam no meio do caminho. Continuaram a fazer música de pré-adolescente em um tempo em que o rock já batia nas portas da maturidade. Mas quem quiser uma aventura descompromissada, pode desembolsar uma graninha e alugar o filme. Eu não recomendo.