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Sobre trânsito, buzinas e um pouco de insanidade

Se a felicidade do cachorro está no rabo, a felicidade do paulistano está naquele apetrecho circular dos volantes, comumente conhecido por buzina, apenas. Fico me perguntando o porque dessa relação visceral entre paulistanos e suas tão amadas...buzinas. Pare para observar uma rua movimentada de São Paulo por apenas cinco minutos e você terá o prazer (ou desprazer) de presenciar o homo paulistans em seu habitat natural, fazendo aquilo que a natureza lhe impele como o cerne de sua existência cósmica, isto é, buzinar. Se um pobre infeliz pára por dois míseros segundos na "pole position" do semáforo quando o circulosinho verde acende, já é logo alvejado com rajadas de buzinadas de seus desafetos retardatários, descontentes com a "perda" de alguns milésimos-de-segundos-de-vida. Basta um começar a ensaiar uma buzinadinha para que outro entre na roda, e, tão logo, temos um magnífico coro dissonante de frenéticos motoristas, com os olhos vidrados, vermelhos, babando pelas beiradas, mastigando pedaços de borracha com seus dentes desgastados pelo alcatrão e cuspindo-os (os dentes e os pedaços de borracha) violentamente contra o vidro do condutor vizinho. "Meu bom homem, por quê você buzina?", pergunto despropositadamente para um senhor com faces de conservador de meia-idade montado em seu BMW azul-marinho. "Bem, eu, é...eu preciso, ok? Você tem algum problema com isso, seu bostinha? Saiba que quando eu não buzino...é, é um verdadeiro inferno, um terror mesmo. Começo a me vomitar todo, minhas pernas tremelhicam inquietamente, minha visão fica desfocada e...ora, por quê eu perco tempo com você? O sinal abriu e estão buzinando!". Viu só, não disse? Mas não são todos assim, essa coisa de olho desfocado é frescura. Uma vez vi um sujeto de cócoras na calçada. Tinha os olhos fixos no horizonte, pendia para frente e para trás com frequência. Os dentes rangiam, a barba por fazer e um volante de plástico na mão esquerda. "Perdi minha buzina, perdi minha buzina...", praguejava em tom choroso com os olhos marejados. Estórias estranhas de um tempo insólito.