Insight do fracasso (alheio)
Fui assistir ao Grande Prêmio da Malásia de Fórmula 1 no apartamento de meu amigo Albano. Estive na companhia de Allan, Mé, Brunella, entre outros. Saí de lá às seis da manhã e, apesar de não ter bebido, só cheguei em casa graças à carona do Allan. E com o pensamento fixo na cabeça de que Felipe Massa é um fracasso.
Sério. Pensando um pouco melhor, previ um futuro pouco glorioso para o brasileiro da Ferrari. Em cinco anos, Massa vai continuar sem títulos mundiais na Fórmula 1. De quebra, ainda vai estar se despedindo da equipe italiana para correr em uma equipe mediana, como a Toyota ou a Red Bull. Talvez seja até motivo de piada.
É evidente que a comparação com Rubens Barrichello é automática, o que torna as coisas ainda mais cruéis para Massa. Até porque Rubinho sempre teve talento e um carisma elevado entre a torcida brasileira. Nas épocas de Jordan e Stewart, alcançava resultados incríveis com carros apenas medianos. Com a equipe de Jackie Stewart, apesar de competir contra carros superiores, como Ferrari, McLaren, Williams e Jordan, conseguiu o segundo lugar no GP de Mônaco (1997) e três pódios em um ano (1999).
Em 2000, Rubinho foi para a Ferrari e, enfim, conquistou a primeira vitória da carreira. É claro, porém, que aquele GP da Alemanha só criou ainda mais expectativa na torcida brasileira, carente de um herói desde 94. Mimados que fomos por Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna, achávamos que um brasileiro só poderia estar em uma equipe como a Ferrari para ser campeão. Sem sabermos que não era para vencer que Rubinho havia sido contratado.
Evidentemente, ele ajudou em seu próprio processo de achincalhamento público. Desde a época pré-Ferrari, incorporou o espírito de líder de uma nação – vide os capacetes especiais nos GPs do Brasil (foto). Nós, é claro, acompanhamos. Só que Barrichello soube se livrar de tal pressão com o tempo (embora ainda acredite que possa conseguir bons resultados com mais um fraco carro da Honda). Nós não; cobramos dele até o fim que está por vir.
Rubinho virou motivo de chacota, e Felipe Massa também pode virar. Embora as condições entre ele e Kimi Raikkonen e ele sejam menos desiguais do que eram entre Michael Schumacher e Barrichello, Massa igualmente incorporou o espírito de “serei campeão”, e não parece disposto a se desfazer dele por um bom tempo. Começa até a soar um pouquinho petulante.
É evidente que é demasiado cedo pra falar em desvantagem dentro da equipe – afinal, foram apenas duas corridas realizadas neste ano. Porém, Kimi vem de um título mundial e já venceu corrida neste ano. Por mais que seja completamente possível uma reviravolta na temporada (basta lembrar dos diversos cenários de 2007), é inegável pensar que o finlandês teria que se justificar menos se tivesse cometido um erro em Sepang.
Por isso, há boas chances de a história absolver Rubens Barrichello. No futuro, ele deverá ser lembrado como um piloto talentoso que se deixou seduzir pela chance de correr na maior equipe do mundo, e que acabou se frustrando por encontrar uma realidade incompatível com os sonhos nos quais ele estava mergulhado. E o principal álibi de Rubinho será Massa, que tinha completas condições de brigar pelo título e não soube administrar a própria vaidade, rebaixando-se a segundo piloto apenas por ter perdido uma briga em condições iguais.
Essa previsão, porém, não é apenas minha. Quando o finlandês Mika Hakkinen concedeu esta entrevista para Felipe Held, afirmou que seria natural que a Ferrari se voltasse para Raikkonen, relegando Felipe (o Massa, não o Held) à condição de segundo piloto. Hakkinen tinha alguma razão, mas não sabia nem de metade do problema. De fato, o bicampeão não sabia do tamanho do problema que o brasileiro criou para si.